Luta pela vida: o combate à desnutrição no Sul de Angola
O pequeno Eugénio, de 1 ano de idade, chegou à Unidade Especial de Nutrição (UEN) do Hospital Municipal da Humpata, Província da Huíla com o quadro típico de desnutrição severa: peso baixo, falta de apetite, letargia nos movimentos e edemas nos membros superiores e inferiores. Dina, a jovem mãe de 23 anos, temia pela vida do único filho, que também apresentava diarreia e queixava-se de dor de barriga já há alguns dias.
Dina e o marido são camponeses e trabalham em uma lavra compartilhada com outros membros da família. Do pouco que colhem, dividem a produção para consumo, e o restante para venda nos mercados locais. Quando a jovem mãe parte para o trabalho, Eugénio fica sob os cuidados de outras crianças da família, que têm entre 5 e 12 anos de idade. Dina deixa uma refeição preparada, mas, no final do dia, não pode afirmar se o bebé foi bem alimentado.
A realidade de pobreza multidimensional vivida na casa de Dina, e recorrente na região, levou Eugénio a adoecer. Com pouco conhecimento sobre alimentação e boas práticas de higiene, a camponesa tinha o suficiente para oferecer apenas uma refeição por dia para o bebé, feita com farinha e água, e procurava complementar com o aleitamento materno. Aos onze meses, Eugénio passou a rejeitar o leite materno, e a situação da saúde do pequeno se agravou.
Quando chegou à UEN, o bebé ficou internado por seis dias com cuidados intensivos, recebendo leite terapêutico, vitamina A e medicamentos, e a mãe ganhou orientação de como diversificar e preparar os alimentos de forma a evitar que esta situação se repetisse.
“Aprendi que preciso lavar as mãos e ferver a água para preparar a comida, e que posso dar ovo, couve, tomate e cenoura também para o Eugénio comer, porque eu não sabia que ele já tinha idade para isso”, afirma Dina, esperançosa.
Em uma semana, Eugénio passou a reagir e ganhou peso, e de acordo com a enfermeira Margarida dos Santos, encarregada da UEN, “graças à introdução do Ready-to-Use-Therapeutic-Food (RUTF) na rotina alimentar, está a avançar para um quadro de saúde saudável”.
Agora o medo passou. Toda a semana vamos voltar aqui na UEN, buscar o RUTF e ver como está a saúde do Eugénio, mas já sinto que ele está muito melhor, até está a brincar
De Janeiro a Agosto de 2023, a Direcção Municipal de Saúde do Município da Humpata já havia registado 1.015 crianças com Desnutrição Aguda Moderada (DAM) e 1.264 com Desnutrição Aguda Severa (DAS). Com o auxílio da Food for Famine, através da World Vision Canadá, foram distribuídas 3.960 caixas de Plumpynut (RUTF) através do projecto South West Angola Emergency Response – SWAER II, que tem por objectivo realizar o rastreio e o encaminhamento das crianças, entre 6 e 59 meses, com desnutrição aos centros de saúde da região para receberem o alimento terapêutico.