ECONOMIZAR PARA DINAMIZAR O DESENVOLVIMENTO : como o apoio das caixas comunitárias tem mudado vidas em Cabinda
Maria tem 39 anos de idade e vive em Cabinda desde que nasceu. Ao longo da vida, ela enfrentou vários desafios. Depois de 17 anos de vida em comum, o marido deixou a família. Maria se viu sem apoio e com cinco filhos, e uma sobrinhax para criar. Diante desta grande dificuldade, sem trabalho e quase nenhuma experiência de negócio, passou por uma fase marcada por doenças e, principalmente, pela dificuldade de prover a alimentação e outras necessidades básicas da família.
Um estudo realizado pela UNICEF, como parte do “Programa Nascer com Registo”, mostrou que a fuga à paternidade é uma das causas dos vários problemas relacionados com as crianças angolanas. De acordo com o Recenseamento Geral da População e Habitação de Angola (Censo 2014), em termos de registos de nascimento, apenas uma em cada quatro crianças, com menos de 5 anos de idade, é registada no país.
“Depois que o meu ex-marido nos abandonou, eu disse que a minha vida acabou. Eu não fazia nada. Com cinco filhos, sem trabalhar e sem saber fazer nenhum negócio, as coisas seriam mesmo complicadas”, explicou pensativa.
Maria conta que aquele foi um dos episódios mais marcantes da sua estória, e que por conta da fase difícil, viu em Cristo a verdadeira direcção, e o caminho para superar a depressão, e procurar vias de renascer. Outra grande motivação para mudar aquele cenário, foi o exemplo de sua própria mãe, que sempre foi uma mulher que batalhou pelo seus filhos.
Certo dia, ao conversar com uma irmã em Cristo, Maria desabafou sobre a situação pela qual passava e esta indicou uma possível saída para o seu problema: “ela foi uma grande ajuda. Disse que sabendo que tinha a rede, não podia me dar somente o peixe e o pão todos os dias, mas sim ensinar-me como que eu podia pescar”, relembrou Maria, confessando que na altura não havia percebido qual era a mensagem que lhe estava a ser passada.
A irmã religiosa de Maria emprestou-lhe algum dinheiro para que pudesse aliviar a sua situação financeira, mas também mostrou-lhe o caminho de como integrar-se ao grupo de poupança que o Projecto Cadeia de Valor de Cabinda, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (African Development Bank) estava a implementar, através da World Vision, na sua comunidade.
Diante desta condição que deixou a família de Maria vulnerável, e dada a necessidade de sustentar seus filhos, ela decidiu investir o dinheiro fazendo gelados de múcua, e passou a comercializá-los nas principais paragens do seu bairro. Depois de frequentar as reuniões e passar pelas formações em literacia financeira promovidas pelo projecto, com um certo esforço, conseguia contribuir com Kz 1 mil por mês na poupança do grupo, e depois de ter poupado com alguma frequência solicitou o crédito para ampliar o seu negócio e conseguir pagar a escola de seus filhos.
Pelo valor que recebeu, e com a responsabilidade de acertar num negócio rentável para poder devolver o dinheiro ao grupo e aguentar com as despesas da casa, Maria contou que não inventou apenas, mas que foi uma inspiração do Espírito Santo fazer os bolinhos chamados micate, um dos mais requisitados para o pequeno almoço na sua localidade.
“Eu não inventei, eu sonhei, e o Espírito Santo orientou-me para fazer o micate. Fui ao mercado, comprei uma lata de leite, fermento, saco de farinha, um bidão de óleo e toda a composição, hoje faço micate, bolinhos e gelados, e com isso consigo sustentar os meus filhos”.
Todos os dias a pequena empreendedora levanta-se às cinco horas da manhã para vender o seu micate, e garantir que suas crianças frequentem a escola. Ela tem um sonho, e luta para conquistá-lo com a bênção de Deus na sua vida: Maria quer ser uma grande empresária no ramo da pastelaria e, talvez, desenvolver seu potencial para se tornar uma cabeleireira de sucesso na sua comunidade.
Maria relata que através do empréstimo que recebeu, já não é a mesma mulher que anteriormente vivia deprimida e chorando por tudo o que lhe aconteceu, mas que o projecto devolveu-lhe a autoestima e uma nova esperança de vida, para continuar a lutar para que seus filhos tenham um futuro diferente do dela, com estudo, uma profissão e mais comida à mesa.