COVID-19: Impacto da nossa Resposta à Emergência em Luanda

Em Luanda, Angola, a luta contra a COVID-19 ganha força por meio do envolvimento de voluntários e da advocacia com o governo para mudar vidas
Segunda, 23 de Agosto de 2021 - 15:10

Fomos rápidos a apoiar as autoridades sanitárias e as comunidades luandenses no combate à COVID-19. Ao longo dos anos, temos intervido em diversas situações de resposta à emergências em Angola, e esta experiência nos ajuda a agir com rapidez e resiliência. O caso de Luanda era preocupante; a escassez de profissionais de saúde por cidadão é alarmante.

Entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, a World Vision, lançou dois projectos de prevenção e controlo da propagação da COVID-19 em Angola. Os projectos visam fortalecer a atenção primária à saúde e garantir o acesso a informações de prevenção, promoção e protecção para mitigar o impacto da COVID-19 e a sua disseminação nas áreas urbanas e peri-urbanas de Luanda.

No total, os projectos abrangem cinco municípios da província de Luanda. Do recém-anexado Icolo e Bengo, no interior da província, aos distritos periféricos de Cacuaco, Viana, Talatona e Cazenga.

O primeiro projecto recebeu financiamento da Associação do Bloco 15 (ExxonMobil, BP, ENI, EQUINOR, SONANGOL) e da ANPG (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis). A World Vision implementou-o em parceria com o Gabinete Provincial de Saúde de Luanda, Direcções Municipais de Saúde e Organizações da Sociedade Civil (OSC).

O segundo projecto, financiado pela British Petroleum (BP), visa Contribuir para a Prevenção e Controlo da Propagação da COVID-19 por meio do Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde no Hospitais Municipais de Cacuaco, Viana e Talatona. Hospitais beneficiários que outro projecto de saúde financiado pela BP: Mais e Melhor Saúde.

Desde a concepção e implantação dos projectos, mais de 86.000 crianças foram beneficiadas pelas informações veiculadas por voluntários locais, que levam a mensagem de prevenção e higiene às famílias e pessoas individuais na via pública.

Inicialmente, 360 voluntários, oriundos de oitos OSCs (AJACOM, ACPR, ANLD, JUCICA, JUCARENTE, FOJASSIDA, NAÇÃO VERDE e CUIDADOS DA INFÂNCIA), juntaram-se à World Vision e ao Gabinete Provincial de Saúde de Luanda na sensibilização porta-a-porta das famílias.

Em abril, mais 120 voluntários foram integrados ao projecto e, no total, os 480 voluntários já sensibilizaram mais de 56.700 famílias e mais de 290.000 pessoas na via pública. Além disso, foram entregues mais de 7 mil máscaras e 4 mil barras de sabão à pessoas e famílias vulneráveis identificadas pelas OSCs.

"No início, tivemos dificuldade em transmitir a nossa mensagem às comunidades porque a maioria das pessoas não acreditava que a pandemia era real. Com o tempo, os nossos voluntários perceberam que, ao simplificar a nossa mensagem e explicando minuciosamente o contexto completo às famílias, as pessoas tornaram-se mais receptivas ao uso de máscaras e a lavagem constante das mãos para evitar a disseminação da COVID-19 mesmo longe do olhar das autoridades," Antonio Fortes - Nação Verde

Na sua essência, o projecto visa facilitar a acção comunitária auto-sustentável, realizando actividades de Informação, Educação e Comunidade (IEC) sobre medidas de higiene e prevenção contra a COVID-19 para incentivar a auto-responsabilidade de cada membro das comunidades onde o projecto foi implementado.

A Associação Juvenil de Apoio à Jovens Carentes (JUCARENTE), criada há mais de uma década, tem como foco social a educação, cidadania e  saúde. A diversidade da sua carteira de  projectos e o seu impacto social chamaram a atenção da World Vision no início do projecto.

Com 40 voluntários no município de Cacuaco, a JUCARENTE já sensibilizou mais de 18.000 famílias desde o início de 2021. Muitas das áreas operadas pela JUCARENTE são de difícil acesso e devastadas pela pobreza e pela fome.

Mulenvos de Baixo é uma dessas áreas. Anexo à uma reserva estatal, a zona está a ganhar notoriedade à medida que surgem mais notícias nos meios de comunicação sobre o elevado nivel de criminalidade e a deterioração da situação socio-económica no bairro.

Caso as colinas envoltas em resíduos não denunciarem os desafios enfrentados pelos moradores do bairro Mulenvos de Baixo, a paisagem árida e isolada o farão. Aqui, os voluntários da triagem nutricional do Projecto de Manejo Comunitário da Desnutrição Aguda, que a World Vision implementa em parceria com o PAM, encontraram Ngueve, de cinco anos, e a sua família, composta por 20 homens, mulheres e crianças, entre 70 e quatro anos de idade .

Até onde Paulo, pai do Ngueve, sabe, o menino nasceu com paralisia infantil. Confinado a controlar menos de 5% do seu corpo, Ngueve passava os dias se arrastando pelo quintal da sua casa, visivelmente desejando participar das brincadeiras com os irmãos e primos. A JUCARENTE atendeu a chamada do PAM e se encontrou com Paulo.

Paulo tem 52 anos e é trabalhador eventual de farmácia. Residente dos Mulenvos de Baixo há mais de 20 anos. Paulo estabeleceu residência no bairro ainda jovem, recém-casado, desejando e sonhando com um futuro melhor com sua esposa, Fernanda. Na época, eles não tinham filhos.

20 anos depois e após o falecimento da sua esposa, Paulo luta para sustentar a sua grande família.

Além dos sete filhos, Paulo também acolheu 11 sobrinhas e sobrinhos após a morte de dois dos seus irmãos, "Não é fácil, mas conseguimos sobreviver", disse Paulo com um sorriso no canto da boca.

Ngueve não é verbal. Apoiasse ao pai para se manter em pé, mas, tão rápido as suas pernas cedem, e o desconforto que este exercício causa gera as únicas vocalizações do Ngueve: Vocalizações de dor.

Somos gratos pelas formações e orientações da World Vision porque nos capacitou, não só a buscar métodos diferentes de disseminar informação, mas ajudou-nos a ter um impacto mais evidente na vida das crianças mais vulneráveis”, voluntarios - JUCARENTE.

As capacitações facilitadas pela World Vision International em Angola habilitaram a  JUCARENTE a ir mais longe na sua colaboração com a Direcção de Saúde que em torno, doou uma cadeira de rodas ao Ngueve e assistência fisio-terapêutica, enquanto o PAM tem dado assistência nutricional. Tudo isso, de valor inestimável para a família do Ngueve.

 “Queríamos desde o início capacitar a sociedade civil com formações e transferência de conhecimento técnico utilizando ferramentas de trabalho adaptadas às necessidades das Organizações da Sociedade Civil. Com isso, procuramos apoiar a vigilância epidemiológica de base comunitária”, referiu Vagno Gomes, Gestor de projectos da World Vision Angola.

Indo além do esperado, o projecto tem ajudado a preencher a lacuna de comunicação entre as instituições governamentais e os voluntários da linha de frente para melhorar as vidas dos moradores dos municípios onde o projecto é implementado.

Esse objectivo é evidente no advento da história do Erineu.

Erineu e a sua mãe Irina de 6  e 27 anos respectivamente, moram em Talatona numa casa de um quarto onde vivem de favor. Irina está desempregada há um ano e consegue sobreviver pedindo ajuda de casa-a-casa.

Erineu adoeceu repentinamente. Até agora, Irina não consegue explicar o diagnóstico do seu único filho ou por que os médicos decidiram manter os intestinos de Erineu expostos; ela sabe, porém, que o segundo procedimento, que ocorreria três meses depois do primeiro -  mas acabou ocorrendo três anos após o facto -  salvou a vida do seu filho.

Esta acção foi da autoria da equipa da Organização Nação Verde que primeiro visitou a mãe e o filho para auxiliá-los no combate à COVID-19, mas se motivou a ajudar Irina a buscar soluções para melhorar a vida do seu filho.  

Assim como a JUCARENTE, a Nação Verde procurou a autoridade sanitária local e conseguiu que Erineu fosse submetido a segunda cirurgia.

Três meses após a operação, Erineu é uma nova criança. Ele sempre foi uma criança feliz, embora solitária; as crianças tinham medo dele e ele precisava ter cuidado  ao brincar para não se machucar. Agora Erineu tem muitos amigos. Quando chegamos a sua casa, ele não estava lá; tinha ido brincar com 16 dos seus amigos mais próximos.

Futuro bombeiro, Erineu ilumina o dia com seu sorriso. O jogo favorito de Erineu é sonhar acordado com todos os brinquedos que terá um dia; no momento, ele não tem nenhum.

Erineu ainda não vai à escola, mas está ansioso pelo dia em que irá. Irina está a procura de um emprego para sustentar a si mesma e ao seu filho com o coração mais leve, contente em saber que o seu filho tem um futuro saudável pela frente.

O esforço de resposta da COVID-19 foi muito além do seu propósito de espalhar mensagens de prevenção e higiene. Sem dúvida, tem melhorado a vida de inúmeras crianças e equipa organizações sociais a darem continuidade à um legado de boa vizinhança e voluntariado.

Até 18 de Agosto de 2021, Angola registou um acumulado de 44.972 casos confirmados da COVID-19, dos quais mais de 36.000 casos recuperados.