Dificuldades económicas impulsionam inovação nos negócios em Cabinda
Aos 35 anos de idade, quem vê Antonieta Umba com um sorriso largo não sabe que até pouco tempo atrás a sua realidade lhe dava poucos motivos para celebrar.
A jovem empreendedora é um símbolo de resiliência na comunidade do Chinga, na Província de Cabinda, onde mora desde que se casou.
Ainda criança perdeu o pai, que era o arrimo da família. Foi criada pela mãe que, ao tornar-se a chefe da família, não conseguia suportar o pagamento da escola dos filhos. Ainda adolescente, Antonieta viu-se obrigada a abandonar os estudos e casar-se para poder auxiliar no sustento da casa. Depois de algum tempo, separou-se do companheiro e assumiu família, entrou no trabalho de campo como agricultora, para poder gerar sustento e garantir a sobrevivência dos filhos.
Seu maior sonho era ser empreendedora, tornar-se vendedora. Ela sempre teve a consciência de que se buscasse um emprego em uma empresa não iria conseguir uma boa oportunidade por não ter terminado os estudos. Então, pretendia conciliar os trabalhos do campo com um incremento através das vendas de productos alimentares nos mercados locais.
Em 2017, já com dois filhos, começou como agricultora em uma lavra compartilhada. Nesta época, cultivava a mandioca para consumo próprio e venda. Aprendeu com as outras agricultoras da sua comunidade a processar manualmente a raiz para transformá-la em farinha, especialmente em chicuanga.
Há quase um ano, com o início do Projecto de Desenvolvimento das Cadeias de Valor Agrícola da Província de Cabinda, financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento e implementado pela World Vision, Antonieta e as outras participantes do então grupo “Prova de Fé” tiveram aulas de empreendedorismo, associativismo e literacia financeira, o que as preparam para impulsionarem os seus negócios. Através da caixa comunitária, desenvolveram a noção de não dispenderem todo o dinheiro que ganham, e com o que poupam conseguem capitalizar e reinvestir para incrementarem a produção.
"Se eu conseguir mais dinheiro com o que eu vendo, vou conseguir pagar trabalhadores para plantarem para mim batata, banana e ainda mais mandioca, feijão macunde... se eu for plantar sozinha, não vai dar certo, depois vou vender e vou mesmo ter lucro", afirmou confiante Antonieta, que reconhece que o associativismo foi o que pode mudar a realidade das mulheres daquela região. Ao trabalharem em grupo, conseguiram passar a cultivar uma área maior e a ter um maior aproveitamento na colheita.
Há alguns meses, em função do excelente desempenho que a cooperativa vinha demonstrando, beneficiaram de uma máquina de processamento de mandioca.
"Tenho conseguido produzir farinha em maior quantidade e com mais rapidez. Antes fazíamos apenas 10 a 20 quilos por dia, o que não era o suficiente para sustentar as nossas crianças. O lucro que tínhamos era muito baixo, chegava entre Kz 150 a 200 por quilo vendido. No total, voltávamos para casa apenas com Kz 3.000 ou 4.000 com os quais conseguíamos apenas comprar a comida para o dia, às vezes dava apenas para uma refeição. A alta dos preços dos alimentos nos deixou em uma situação muito difícil. Agora, com a ajuda da máquina, vamos de 100 a 200 quilos por dia e conseguimos vender mais rapidamente, isto significa que conseguimos tirar entre Kz 30.000 e 40.000, uma ajuda muito importante para podermos comprar outras coisas para a casa."
Futuramente, a cooperativa pretende inscrever-se para ter acesso formal a um crédito via banco. Com o dinheiro a receber, vão investir na compra de um transporte para facilitar o escoamento da produção da lavra ao local do processamento, de forma a trazer dinamismo ao processo da cadeia de valor.
Antonieta define-se como uma mulher batalhadora. Seu desejo é servir de exemplo para a família e a comunidade, e ver seus filhos terminarem a escola e conseguirem um bom emprego, de forma a usufruírem de um futuro mais seguro e ela de uma velhice confortável.