Uma Luta Incessante No Sul De Angola: SWAER-II ALÍVIO EM MEIO À INSEGURANÇA ALIMENTAR
Entre as nove grandes crises alimentares que assolam os países da África Central e Austral, Angola é a primeira nação mais afectada, conforme dados do Relatório Global sobre Crise Alimentar (GRFC) de 2023, do Programa Alimentar Mundial (PAM).
A situação de fome e insegurança alimentar é crítica no país, devido a múltiplos factores, entre eles as mudanças climáticas que prejudicam as colheitas, e os económicos, como a alta desproporcional do preço dos alimentos, o que condiciona as famílias a terem cada vez menos diversidade à mesa, e quando há o que comer, muitas vezes, não é a quantidade suficiente.
Carolina é mãe, uma das muitas que, no contexto de emergência, tem trabalhado para contornar a situação desafiadora em que se encontra. Aos 42 anos e com seus cinco filhos, vive na comunidade de Bata-Bata, município Humpata na Huíla. No curto tempo chuvoso que é registado no Sul, Carolina trabalha na sua pequena lavra, e no tempo seco, que é a maior parte do período sazonal, ela vai fazendo biscates para obter o que dar de comer para os seus filhos. “No tempo chuvoso vou trabalhar mesmo e dar no duro para ver se consigo plantar alguma coisa para depois poder colher, se a chuva cair mesmo bem, vou conseguir alguma coisa para dar de comer as crianças”, disse esperançosa.
O projecto de Resposta a Emergências no Sudoeste da Angola (SWAER-II) chegou à esta comunidade com o objectivo de minimizar os efeitos causados pela seca naquela circunscrição.
O Sul de Angola é um contexto marcado pela estiagem e as famílias que vivem nesta região têm enfrentado diversos problemas de acesso à água, e a insegurança alimentar é bastante visível. A já curta época de chuva não é suficiente para que o plantio seja próspero, e com a crise económica que vem que se agravando no país, as famílias veem os episódios de falta de comida tornarem-se cada vez mais dramáticos. Os pais, que na sua maioria são agricultores, não têm o que dar de comer aos seus filhos, porque o pouco que colhem da plantação não basta para alimentar a todos por um maior período de tempo até a próxima colheita.
No âmbito do rastreio nutricional desenvolvido pela equipa da World Vision Angola na comunidade de Bata-Bata, um dos filhos de Carolina foi diagnosticado com desnutrição aguda severa, e imediatamente encaminhado pela equipa de nutrição para a unidade de saúde mais próxima da sua comuna, onde passou a receber o tratamento com o medicamento terapêutico, RUTF.
Dos cinco filhos que Carolina possui, outros dois foram também diagnosticados com desnutrição, embora que, dessa vez, aguda moderada, e passaram a beneficiar da suplementação com a papa PREMIX, que é uma mistura balanceada de farinhas de soja, milho, açúcar e óleo vegetal, desenvolvida por nossos especialistas em nutrição.
As mães e irmãos das crianças com má nutrição registadas pelo projecto também beneficiaram de uma refeição completa e quente diariamente.
Apenas no mês de Agosto de 2023, foram diagnosticadas doze crianças com desnutrição aguda severa e 19 com desnutrição aguda moderada na Unidade de Saúde da comuna de Bata-Bata, em um núcleo de 80 rastreios realizados.
A equipa do SWAER II, através do rastreio nutricional semanal, que foi realizado, acompanhou 507 crianças no Feeding Center da Bata-bata, onde eram distribuídas entre 160 a 200 refeições ao dia.
Graças à refeição do Premix, os filhos de Carolina demonstraram sinais de recuperação. A mãe conta que ficou satisfeita vendo a recuperação dos filhos, mas afirma que não terá como impedir que eles voltem a adoecer, porque como ela disse, o que tem a oferecer também não é muito: “A papa é a primeira refeição que a minha filha teve hoje, e do jeito que estão as minhas condições, talvez seja a única. O que tivermos em casa vamos comer, se não tiver nada também posso preparar alguma coisa só para passar o resto do dia”, lamentou Carolina.
Carolina testemunha que não tem sido fácil, ela vive cansada de viver nesse contexto e gostava que um dia a causa fosse ultrapassada e pudéssemos todos dizer: JÁ CHEGA DE FOME!